Mais uma colaboração. Coronel Reis – Diretor Abravoo
“…aos profissionais de Manutenção de Aeronaves, um setor que ainda é carente de uma instrução mais profunda…”
A MANUTENÇÃO DE AERONAVES
SOB UMA ANÁLISE MAIS PROFUNDA
TenCel Esp Av Rfm JOCELYN S. REIS
De acordo com o Engº José Serra, funcionário da Embraer e participante da equipe que projetou o Emb-190, a Segurança de Voo (ou Segurança Operacional) está apoiada num “tripé” sustentado por apoios ou pernas que ele denominou Integridades. São elas as integridades de Projeto, de Operação e de Manutenção.
Como ex-integrante do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) e sendo Oficial Especialista em Aeronaves , tendo sido mecânico de aeronaves por sete anos e mais tarde, gerente de manutenção, convido-lhe para fazermos uma análise mais aprofundada do tema Manutenção e Segurança de Voo, assunto de constante preocupação à medida que o tempo passa e as engenharias evoluem.
Voltando ao parágrafo inicial, discutiremos algumas facetas da “perna” Integridade de Manutenção, fundamental para que o tripé da segurança do voo não caia, ou seja, não venha a ser um fator contribuinte para a ocorrência de eventos não desejáveis, os incidentes e acidentes aeronáuticos. É lógico que as outras duas Integridades também são importantíssimas. Quantos eventos catastróficos tiveram e têm como origem, falhas relacionadas com o Projeto ou mais ainda, com a Operação? Pense por alguns segundos.
O passar do tempo é um grande professor, pelo menos para os “alunos” mais atentos. A experiência que obtive no dia-a-dia da minha vida profissional, foi imprescindível para me capacitar para fazer hoje, as observações e proposições mais adequadas quando discutimos este assunto. Conforme já afirmei,
Fonte: Internet
fui mecânico de aeronaves, mão-de-obra direta, por mais de sete anos. Tinha vinte e um anos quando iniciei como mantenedor de aeronaves. Voltando para este passado, afirmo que vi muitos incidentes e acidentes envolvendo tanto falhas de operação como erros de manutenção. Saídas de pista (runway excursion), choque com pássaros, estouro de pneu do trem principal na decolagem, ejeção involuntária dentro do hangar, disparo acidental do canhão com a aeronave estacionada, etc, são alguns exemplos de ocorrências que presenciei.
Janeiro vai, janeiro vem e, um dia, já como oficial superior e tendo participado das investigações de três graves acidentes aeronáuticos, principalmente em 1996 (veja na internet as ocorrências naquele ano em termos de acidentes), fui transferido para o CENIPA. Como era esperado, dediquei-me à pesquisa e produção de material didático direcionado aos profissionais de Manutenção de Aeronaves, um setor que ainda é carente de uma instrução mais profunda, atualizada e mais elaborada em muitas organizações que operam aeronaves de asa fixa ou rotativa. Pode me contestar se quiser. O que afirmo, é fruto de fatos observados “in loco”. Em função dos conhecimentos adquiridos mais tarde, mas não tão tarde, verifiquei que fui “ator coadjuvante de filme de terror”, sem saber. Mas, graças a Deus, minhas ações como mantenedor foram corretas e seguras.
Tornei-me instrutor de segurança de voo para a “perna” Integridade de Manutenção. Ministrei uma infinidade de palestras sobre este assunto Brasil afora e até no exterior a serviço do CENIPA. Durante os contatos iniciais com os promotores de muitos seminários ou encontros de Prevenção, observei que muitos me pediam para “mostrar” muitos acidentes com fotos horríveis, com o objetivo de chocar a audiência que na grande maioria era composta por mantenedores ou auxiliares de manutenção. Todavia, eu sempre lhes pedia que os chefes, militares ou civis do setor de manutenção, ocupassem os primeiros assentos. Poucas vezes fui atendido. As pesquisas que realizei e os cursos que fiz dessa área, me mostraram que o “homem da graxa”, tem que estudar mais por meio de um currículo mais extenso que também aborde o tema “Fatores Humanos”, e estar on line com as novas tecnologias embarcadas nas modernas aeronaves. Ele deve não somente ver imagens de acidentes, mas sim, entender porque eles acontecem.
O mecânico precisa também, ter um razoável conhecimento da língua inglesa no que diz respeito à manutenção aeronáutica. Dependendo do grau de complexidade da aeronave que manuseia, deve fazer uma reciclagem dos sistemas da mesma, numa frequência que seria determinada pelos responsáveis ou chefes. Isto é muito importante quando uma nova aeronave é incorporada, trazendo novas sistemáticas e tecnologias mais avançadas.
Outro assunto que deve sempre ser motivo de atenção por parte dos chefes, é o fato de que o mecânico a exemplo de qualquer outro profissional, tem família com as suas responsabilidades intrínsecas que trazem preocupações diárias. Problemas conjugais, dificuldades financeiras, problemas de saúde, envolvimento com drogas, etc, tudo isso e o que for julgado necessário, deve compor o “cardápio” de temas a ser discutido com os homens da manutenção, pelo menos duas vezes por ano. A segurança do voo começa no solo do hangar! Se essas facetas, não forem monitoradas por quem comanda ou gerencia a manutenção e adjacências, a falha humana ocorrerá, podendo desencadear uma série de eventos indesejáveis. A falta de atenção ou de instrução pode produzir o erro ativo, último dominó a tombar para ocorrência do fato nefasto. O “tripé” cai e o pior pode acontecer.
Caminhando para o epílogo destas considerações, seja você um profissional de aviação ou não, entenderá alguns questionamentos relacionados relacionados com o tema, pois são perguntas básicas para qualquer setor de manutenção. Analise cada uma: Todos têm curso da aeronave que mantêm? É programado pelo menos um evento de prevenção todos os anos, que discuta falhas de manutenção que contribuíram para acidentes? As instalações da empresa/organização foram bem planejadas, de modo a não facilitarem a falha humana? Os equipamentos de apoio de solo (EAS) são bem cuidados e estão sempre disponíveis? Todos estão doutrinados quanto aos cuidados com F.O.D.?
Fonte: Internet
Há um efetivo controle das ferramentas portáteis? O uso dos EPI é incentivado? As regras de emergência são difundidas com a necessária frequência? Há um efetivo controle de corrosão?
Promover segurança na manutenção dá trabalho, exige perseverança, habilidade no trato com pessoas e, paciência. Por mais custosos que sejam os investimentos feitos em prol da Prevenção, eles são ínfimos diante das consequências de um acidente! Afinal, gerenciar manutenção é gerenciar pessoas, exigindo inteligência e firmeza de atitudes, porque o ser humano por mais escolarizado que seja, traz em seus genes algumas “virtualidades” que produzem eventos catastróficos mais do que reais! São eles: preguiça, complacência, imprudência, imperícia, negligência, esquecimento, distração,… . Você é capaz de nominar mais alguns?
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Profissional da área de aviação.
Oriundo da Força Aérea Brasileira (Sistema de Aviação Civil DAC/ANAC).
Executou atividades no CENIPA, Elemento Certificado EC-PREV e EC-AA. SGSO e AVSEC.
Especialista em Biociências Forenses. Consultor Independente.